quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Das 20 coisas que aprendi ao tentar chegar no topo da minha vida


“Per Tenebras ad Lucem”

  (Do Latim, “Nas Trevas, procure a Luz”)

(qual é o topo da sua?)

Após um período sabático por ordens médicas (3 meses ausente, para ser mais exata), tento mais uma vez retornar. A partir da próxima postagem trarei atualizações sobre tudo. Por hora, trago aprendizados que detive ao longo da jornada chamada vida, pela qual estive no ápice da luta no último ano, como se fosse escapar a qualquer momento entre os dedos enquanto eu me debatia contra essa constatação… e consegui! Essas epígrafes são estratégias de guerra que aplico incessantemente e que, após meses de silêncio e finalmente em recuperação, saliento. Se deseja ler todas as 20, acesse nos comentários ou no blog, link na bio.


1. Sobre a jornada ser de recomeços e não de fim:

Reconhecer o topo da vida

Ao deixar o instável solo uterino que habitei e perceber imediatamente a dualidade luz e sombra, ao ver a luz gerar a sombra nesse exato momento onde tudo foi vida, para logo em seguida ser morte, entendi que o topo da minha vida seria estar viva, permanecer aqui. Nada, nenhum desejo ou ambição seria maior ou mais importante que isso em mim; 

2. Sobre ficar na jornada: 

Escolher ficar…

Nascitura nas trevas da luminosidade, ex feto doente e frágil, logo vi o topo, escolher a faceta luminosa que gerou as trevas, para em seguida, compreender a integração entre ambas e só aí, destilar a luz das sombras em cada trilhar obscuro da jornada;

(Se a vida te dá um blecaute, faça uma lamparina com os galhos vivos da floresta escura e a labareda do que é alimentada a tua alma)

3- Sobre a queda: 

 O que fazer do despencar

E a sensação de morte, após viver, elucidou em meu pequeno cérebro a realidade dos fatos que eu enfrentaria, que da luz eu só teria apenas uma lamparina por vez em minha jornada terrena. E essa pequena chama a iluminaria inteiramente, pois é o meu guia na escuridão em busca da luz maior presente nela mesma: permanecer viva, o topo do meu mundo a partir dali e saber que isso é sobre ver a grandiosidade das coisas simples;

4- Sobre forças para levantar: 

      Aprender a voltar…

Se eu avistasse somente a luz, iria me debilizar no desejo de apenas enxerga-la durante a busca por permanecer que se iniciava a partir dali, porém, avistar o cais escuro, me fez valorizar os pequenos faróis da jornada e torná-los destino e não apenas partida ou chegada;

5- Sobre recomeçar: 

Rumo ao topo, de novo e está tudo bem!

Aceitar apenas a luz e não as suas trevas, seria de forma equivocada escolher unicamente a morte e aceitar apenas o “paraíso”(alívio?) que deriva dela, esse, que conheci após abrir os olhos, que aliviaria em definitivo minhas dores, mas que só prolongaria a minha jornada ao evoluir, caso o escolhesse. Esperar da vida apenas a luz é o mesmo que recusar as suas várias nuances e desistir, pois viver é tudo, menos um amontoado de padrões perfeitos;


6- Sobre permanecer recomeçando:

 Os labirintos da vida, são as estradas que nos guiam 

Seria fácil ir ao “paraíso” perfeito (se ele existe) em linha reta (se ele fosse tudo o que eu desejasse e precisasse). Era só aceitar, fechar os olhos e estaria lá, por quê continuar nesse ziguezaguear das dores? Porque no meu caso, viver também é isso e viver é tudo o que quero! 

7- Sobre o “outra vez”:

  Porque o topo é ficar

Se morrer é luz e não apenas trevas, viver também é trevas e não apenas luz e aceitar esse fato, não apenas nos mantém no caminho do permanecer, como nos guia em meio aos percalços que enfrentaremos ao escolhermos viver, com mais consistência e saber, principalmente do fato de que nas trevas do viver, há sempre uma luz para permanecer; 

8- Sobre o “mais uma vez”: 

A luz que apunhalou o meu olhar

Porque não vivo como quero, nem como disseram que deveria, mas sobrevivo fazendo o que é preciso e como é necessário ser feito para sobreviver: ser caçadora de luz nas trevas foi o que me manteve aqui até agora;


9- Sobre o “era mais uma vez”:

A luz que dói é a mesma que desejo

Eu sempre desejei viver, nunca o contrário e sem falsas ilusões! A vida amanheceu em meu primeiro olhar, no primitivo momento de treva que ela me ofertou, a saber: a possibilidade da morte e de deixar toda a dor do momento do nascer para trás… e eu não o aceitei, e doeu e dói e assim mesmo eu a quis e a quero, inquestionavelmente. Escolhi o pode parecer sombras, mas para mim é aprender, evoluir, amar… é poder ficar um pouco mais a cada novo dia para contemplar o próximo;

10- Sobre o “não era a minha vez”:

A mesma dor que me leva ao chão, pode me levar ao meu topo…

Tive que ensinar o meu novo nome ao vento, para que ele o levasse as demais forças da natureza, e que, de tempestade em tempestade, me reconhecessem. E elas me surpreenderam trazendo de volta o meu nome antigo, dizendo: você fica! Use sua fé e quem você é! 
Sozinha eu jamais conseguiria;

11- Sobre a estrada ser infinita:

  Aprender a aprender mais

A partir daí, várias possibilidades de “paraíso” e morte me foram apresentadas, nem sempre pareciam conectadas (principalmente a quem as apresentava), porém, estavam sempre interligadas, pois jamais haverá “paraíso” sem morte e ao tropeçar em qualquer uma delas, eu morria mais um pouco, no entanto, permanecer viva sempre foi o meu topo e continuar aqui significa abdicar definitivamente de “paraísos facilitadores” e me afastar de tudo o que mente contra a mim mesma;

12- Sobre o espinho ser estrada:

Identificar quando e como fui ao topo mais uma vez…

Afinal, viver é andar ao lado de vários leões por dia e na maioria das vezes, você não será sua leoa favorita. Há de se ter coragem e VONTADE para enfrentá-los e se alimentar da própria existência deles enquanto os acompanha, sabendo que nem de longe isso significa VENCÊ-LOS sempre ou ter força para fazê-lo, mas, chegar ao meu topo mais uma vez e todo dia: permanecer, apensar deles e se preciso, com eles!

13- Sobre o finito não ser opção:

    E mais uma vez, morri…?

Já que futuro não tem memória, passado é riqueza de aprendizado que se deve garimpar durante a visitação e presente é prova que se responde olhando para trás, mas mirando na frente, o que faço dos meus ontens são os paraísos que alimento e as armas que uso para continuar a estar aqui, posto que, escolas que são, me guiam na direção que preciso em meio a escuridão que me assola no hoje, pois amanhã, quando todos os dias reacordo e vez ou outra preciso REVIVER (experiências EQMs me sobram) e me lembro que viver é isso, é exatamente isso que quero continuar a fazer: RE-ACORDAR e RE-VIVER, com princípio, meio e recomeço, nunca fim e sempre que preciso for; 

14- Sobre não abraçar o finito:

       Mais uma vez aprendi…

Se habitar algum “paraíso” fosse a minha intenção, estar lá teria sido muito mais fácil para mim do que sequer desejar permanecer, quem dirá ficar aqui, lugar que quero chegar todos os dias;

15- Sobre mim:

  Por isso recomeço de novo, de novo… e de novo! 

Aqui é onde eu me apego a cada momento que me escapa entre os dedos doentios e lentos, nas pequenas luzes de cada dia presentes em minhas vistas fracas e semicerraras pelo clarão ofuscante da partida definitiva, abraçando as pequenas ocasiões de sorrir e ser feliz, antes que chegue o dia que me resta. Porque viver tem sido a maior repetição que tenho mania de praticar, fiquei com toque de vida, ao fim de todos os dias eu quero mais, só para começar a fazer tudo de novo amanhã. O frenesi é tanto que chego a estudar formas e pesquisar novos meios para continuar a fazer-lo o máximo de tempo a mais do que me foi permitido e mesmo salientado pela ciência um dia, ao dizer: você é incompatível com a vida humana. Pois bem, foi ela que escolhi viver e continuarei escolhendo todos os dias! 
Não apenas um exercício, mas uma missão, não apenas uma missão, mas um prazer! 

16- Sobre todos nós: 

E vivo o topo do meu mundo, estar viva! 

Porque viver jamais se tratará do caminho mais fácil, mas da união de obstáculos que teremos que percorrer para alcançar os nossos objetivos, sendo o meu, permanecer, escalando mais uma vez a montanha até o topo, enquanto caminho sob profundidades, atropelo avalanches com o tsunami do prosseguir e perscruto os labirintos do recomeçar de mãos dadas com feras antigas do reaprender;

17- Sobre vencer todos os dias: 

         E querer continuar…

Eu estou no topo do meu mundo, da minha vida e nele ainda tem muita estrada. Descobri logo cedo que permanecer nele significa escalar sem parar, que desejar continuar significa não desistir de escalar;

18- Sobre cada vitória:

 Porque cada dia É CONSEGUIR!

Chegar aqui é um sonho de infância cumulativo, repetitivo e cíclico, que realizei pela primeira vez no dia em que nasci e do qual jamais vou desistir, pois os “infernos” que se apresentaram, tornaram-se combustível em meio às batalhas, e, vencer o comodismo dos “ilusórios paraísos”, lição de casa de cada pós-guerra;

19- Sobre permanecer no topo:

    Para tentar mais uma vez:

… das coisas que aprendi ao tentar chegar mil vezes ao topo da minha vida: cheguei todas as vezes em que permaneci viva e isso foi e continua sendo incrível! 

20- É sobre ter sido sempre sobre ele, o topo:
               
     volte vinte casas

Onde permanecer é continuar a subir e subir é chegar, continuar a viver…
  … E faça tudo de novo! 
                    

21- Sunna França

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Os meus, os seus, os nossos “COMOS”

(Imagem #tbt de 2020 em Gramado)

“Aquele que tem um porquê para viver pode enfrentar quase todos os comos.” 
Friedrich Nietzsche

Tenho andado pensativa sobre o passado de algumas coisas, principalmente as da alma, essas que nos compõem para além do físico… talvez sejam ensejos de um sonhar com certo tipo de resgate de COMO fui e de COMO gostaria de voltar a ser (pois jamais deixei de ser QUEM sou) e não é saudosismo, é um tipo de “COMO” que só o amor próprio consegue promover: eu quero ser COMO eu sou, eu gosto disso e isso alimenta a esperança de ser sempre inteira e completa, corpo, alma e espírito, independente das mudanças que eu tenha que empregar no meu “COMO/SER”.

(Não somos apenas o que somos, mas o que podemos vir a ser)

Num processo árduo, como o que as limitações das doenças nos impõe, é necessário também uma dose extra de auto conhecimento, para que os ingredientes de quem somos, que compõem o COMO somos, não se percam na jornada, durante os contratempos da viagem. Para isso, é necessário revisitarmos com carinho e leveza ao “COMO mais amávamos ser”, sem dor, pois tudo o que dói no ser, necessita verdadeiramente de cura e não de revisitações, no mais, podemos sim, revisitar, reinventar e ressignificar todos os nossos “éramos uma vez”, pois é fato que podemos SER o que SOMOS de várias formas, sem que necessariamente elas componham QUEM SOMOS e sim, COMO SOMOS QUEM SOMOS. 

(No amor, somente nele posso enfrentar a morte, só no amor existe vida apensar da dor)

É certo que há “COMOS” que partiram, que gostávamos muito, que não há mais como voltar e um dia, a duras penas, aprendemos isso e nos despedimos deles feito criança que se despede de mais um parque em uma visitação feita em uma viagem, como foi um dia com a dança e a passarela para mim, que as fazia profissionalmente e um dia o corpo decidiu não mais obedecer aos comandos do cérebro sobre para onde girar e começou a cair, assim também aconteceu com várias pessoas e suas profissões, que tinham em suas motivações os COMOS mais distintos, como hobby, pagar contas, etc e precisaram substituí-las. 

(Conhecemos o valor de algo com base no sacrifício que enfrentamos para fazê-lo)

A troca de COMOS que a vida nos implica, que muitas vezes é norteada ou pelos nossos desejos de ter e pertencer, ou pela necessidade de sobrevivência, para mim, tem como motivação maior a busca por um sentido pessoal para a vida, como encontrar a sua missão, tendo a vida como uma oportunidade para se cumprir uma tarefa, que por conseguinte, me motiva a estabelecer objetivos concretos que a justifique, seja ela, a vida, COMO for! As finalidades nos ajudam a encontrar os sentidos particulares e “COMOFICAR” a vida, ao invés de “COISIFICAR”, como trocar os “COMOS” perdidos por COMOS novos (e não COISAS novas), exemplos: COMO melhorar isso? COMO recomeçar a fazer isso de uma forma que me seja possível? COMO fazer esse resgate? COMO é possível? 

(Intertextualizando o poeta Jean Cocteau, Enquanto você não souber impossível, é possível que se faça!) 

A minha dica é, ao invés de usar os COMOS da lamentação, que tornam tudo mais pesado e próximo ao abismo do impossível, usar os COMOS da superação,

exemplifico: 

- “COMO isso pode ter acontecido?”(COMO da lamentação);

- “eu vou descobrir COMO resolver isso!” (COMO da superação);

 Ou ainda: 

- “COMO isso é terrível ou triste…” (lamentação)

- “COMO isso pode se tornar uma luz?” (Superação)

Com base nesses achados, tenho buscado reorganizar os meus COMOS antigos que me traziam prazer e não me prejudicariam, ao contrário, ajudariam terapeuticamente em meu processo atual ao regressarem (sigo sempre nesse sentido) e para além, agregariam aos meus valores vivenciais (“Há algo de incrível e único nisso que eu possa trazer ao meu próximo?”), valores criativos (“posso gerar algo que ajude ao próximo?”) e os valores atitudinais (“o que posso fazer com essa situação dramática que sirva ao próximo também?”). Esses questionamentos são o meu norte, me possibilitando sempre a utilizar do “COMO destilar luz das trevas” e cumprir com o meu objetivo maior, ajudar ao próximo, como várias vezes já citei aqui.

(Sobreviver é tão valoroso, que vale cada COMO sacrificado) 

Encontrar o sentido da vida de forma alguma a simplifica, em nada significa resolver tudo, ao contrário, é reaprender a viver, é buscar meios de fazer isso de outras formas, inserido no contexto de perdas, dores, doenças, tragédias, assumindo um comportamento novo diante da própria existência, sendo que quanto maior as dificuldades, mais profundo, segregado, imenso e infinito será o seu sentido e isso é simplesmente incrível. 

(No entanto, a força do amor que dá sentido a tudo está no que é simples)

Mais um exemplo, veja-se diante de um mar, como navegante que por uma forte tempestade se tornou náufrago, você afunda, vai ao fundo do mar e quando pensa que é o fim, descobre que pode mais, que inclusive pode respirar sob superfícies tão profundas, coisa que você jamais havia imaginado, sequer tentado e para completar, enquanto lá no fundo, ainda que respirando mal, você descobre um infinito de possibilidades que pode desvendar e reaprender sobre como seguir dali em diante, ainda que não consiga mais voltar a superfície sem que seja apenas por breves momentos. Você percebe que pode aproveitar também para informar a todos nas margens, de todas as possibilidades, você aprende segredos sobre tudo aquilo e de agora em diante você pode permear as duas superfícies, a da terra e a do fundo do mar da vida e descobre finalmente que encontrou um tesouro escondido nas dores, nas angústias, você encontrou uma fórmula que não é nada mágica, e sim, um conglomerado de COMOS novos que podem te ajudar a SER muito mais e melhor a partir dali, esteja onde estiver, em sua fraqueza, você pode ser mais forte.

(Ama o sucinto, para só então, o sublime, imenso e profundo ser alcançado por tua alma)

Aprendi que viver é tudo o que implica respirar, cabe a mim aprender, descobrir por mérito as melhores formas de fazê-lo e para isso, sigo aceitando, respeitando e amando COMO sou. Me basta a muleta física, não preciso de muletas na alma, o meu paraíso é dentro de mim mesma, naufraga extasiada de mim que sou, em constante aprendizado sobre a profundidade onde estou, a vida!

(Existir é questionar e viver é responder)

“O sofrimento, de certo modo, deixa de ser sofrimento no instante em que encontramos nele um sentido". Viktor Emil Frankl



Sunna França 

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