domingo, 1 de março de 2009

Amanheceu em mim!


Amanheceu em mim...
Tenho certeza... Abri a janela e vi!Luz ofuscante em meu olhar... A paisagem tornou-se diferente e por um instante senti-me sendo absorvida por meu próprio reflexo, como se os meus olhos fossem espelhos onde a minha alma se refletia... Luz e ternura constante que instantaneamente surgiu em meio à imagem de pequenos lampejos de saudades-memória daquilo que apenas dentro de mim mesma vivi... Saudades do que o corpo não viveu... Veio então a suave constatação do iluminado e esplendoroso sol também em estado de contemplação... E na expressão do ser ressoavam ao infinito, ecos, a pedir permissão para o eterno brilhar, muito mais que o impulso de não poder...
Amanheceu em mim...
Tornei-me lua ensolarada e infinitamente permanecerei assim. A noite fria se foi e quando mais uma vez eu á relatar, será breve recordar... Sou agora lua aquecida, amanhecida, tingida pelas cores do nascimento do sol em mim. E onde ao longe apenas o reflexo existia, tornou-se bela pintura, fotografia... E o que antes nos garimpos de minha memória era água, tornou-se sólido nascer do dia, deixando-me assim, lua-ensolarada, é manhã em mim. Não é eclipse, pois seria sobreposição onde a um ou outro seria atribuída à escuridão. É um tipo de noite-amanhecida, manhã-anoitecida, com o sol e a lua lado a lado, ambos a irradiar a sua magia... Água e fogo, terra e ar, sol e lua, essa é minha nova noite-dia...
Amanheceu em mim...
E amanhecida estou a vislumbrar o sol e a lua barreiras da distância a dissipar e meu olhar enternecido visualiza essa nova esfera, nascida sob o som da quietude que arrebatou-me até o silêncio, a melodia mais oculta de mim mesma...escrevo hoje uma nova página, traço um novo caminho, pinto uma nova paisagem, abro uma nova janela... Inevitável, inabalável, imensurável, imutável, improvável mas também inalterável, Inconcebível mas também inesquecível, intangível, insubstituível...
Amanheceu em mim...
E ao abrir dessa nova janela-porta fui conduzida a mais absoluta e extraordinária paisagem em mim, e como pintá-la sem antes visitá-la?Jamais o conseguiria, não sem antes captar a sua fórmula, as suas cores, as suas formas, os seus sabores... Por isso, decidi congelar a cena por instantes a mais,até quando?Não sei... Sei que no instante em que à minha frente abriu-se tão preciosa janela, no instante em que os primeiros raios solares adentraram em minha íris, senti que não me queimavam, ao invés disso acalmavam, como fluido líquido a me envolver. Nem o incandescer dos meus sentidos, mesmo ardendo não o ofuscava, posto que labaredas que nascem da água e fogo bastam-se ao primeiro alvorecer, como sonetos de duas melodias lúdicas que tocadas ao mesmo tempo entrelaçam-se num só movimento...
Amanheceu em mim...
E como um filme, permeavam em minha memória pedaços de historia que guardados estavam, que antes pareciam não serem meus, mas que de tão amados eram mantidos em meu particular esconderijo da alma...E decidi assisti-los, somente assisti-los, nada mais... E uma sensação de extrema anestesia tomou conta de tudo o que se movimentava em mim, esvaziou-se o galpão das palavras, o abismo das dúvidas, o porão das lembranças e todos os outros cômodos... Silenciaram-se o coliseu dos poemas, o grande palco das canções, antigas e presentes, novas e ausentes, mesmo as escutadas constantemente. Não restando nenhum ruído, nenhum som, nenhum estalido, tornando-se um momento desprovido de trilhas sonoras, sendo apenas “o silencio” em todo o meu lugar, onde eu queria por horas, dias, décadas, por séculos ficar... Apenas a observar, o que lentamente diante dos meus olhos suas formas começava a definir e o mais importante, a se fixar!
Amanheceu em mim...
E fui acometida pelo medo e terror de que tudo não passasse de um sonho, pela sensação de que um simples movimento apagaria tudo... Deixei-me então ser completamente possuída por uma ausência de sons e movimentos antes nunca habitada em mim, como se o silêncio e a imobilidade fossem meus cúmplices indispensáveis guiando o foco, o farol da visão, que estava por todo o meu eu a perpetuar e a eternizar aquele momento e suas imagens...


E vi... Centelhas de fogo na água a nadar, partículas de terra formas de borboletas a tomar bailando no ar... E o sol... Ah!...Líquido-sol... Com seus raios-braços-solares agarrava-se ao luar... E assim, subitamente, por uma pequena janela, amanheceu o dia em mim, extirpando de vez a melancolia das noites frias e solitárias da lua a beira do mar...
Amanheceu em mim...
E que o seu “pôr” dure cada vez menos tempo, sol do meu amanhecer, anjo inspirador, reflexo solar ao meu luar aquecer, Permita que o pincel mágico da tua lírica aparição transcorra mais e mais vezes sobre a minha face, mesmo que guiado pelos meus próprios dedos... E seja para sempre “meu amanhecer”.


Sunna França

2 comentários:

Anônimo disse...

........impossível expressar com palavRas o que senti ao ler seu poema. Qualquer adjetivo seria simplista demais para isso! Você me fez amanhecer também.

Reflexo!

Anônimo disse...

Nossa,que lindo!Sabia que gostava de ler,da pra perceber pela sua capacidade de raciocínio e de expressão e em sua própia retórica,mas não imaginava que escrevia poemas tão bem e tão lindos assim!Quanta criatividade e imaginação para uma só Barbie...rsrsss
Parabéns e saudades de você e da turma!

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