quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Os meus, os seus, os nossos “COMOS”

(Imagem #tbt de 2020 em Gramado)

“Aquele que tem um porquê para viver pode enfrentar quase todos os comos.” 
Friedrich Nietzsche

Tenho andado pensativa sobre o passado de algumas coisas, principalmente as da alma, essas que nos compõem para além do físico… talvez sejam ensejos de um sonhar com certo tipo de resgate de COMO fui e de COMO gostaria de voltar a ser (pois jamais deixei de ser QUEM sou) e não é saudosismo, é um tipo de “COMO” que só o amor próprio consegue promover: eu quero ser COMO eu sou, eu gosto disso e isso alimenta a esperança de ser sempre inteira e completa, corpo, alma e espírito, independente das mudanças que eu tenha que empregar no meu “COMO/SER”.

(Não somos apenas o que somos, mas o que podemos vir a ser)

Num processo árduo, como o que as limitações das doenças nos impõe, é necessário também uma dose extra de auto conhecimento, para que os ingredientes de quem somos, que compõem o COMO somos, não se percam na jornada, durante os contratempos da viagem. Para isso, é necessário revisitarmos com carinho e leveza ao “COMO mais amávamos ser”, sem dor, pois tudo o que dói no ser, necessita verdadeiramente de cura e não de revisitações, no mais, podemos sim, revisitar, reinventar e ressignificar todos os nossos “éramos uma vez”, pois é fato que podemos SER o que SOMOS de várias formas, sem que necessariamente elas componham QUEM SOMOS e sim, COMO SOMOS QUEM SOMOS. 

(No amor, somente nele posso enfrentar a morte, só no amor existe vida apensar da dor)

É certo que há “COMOS” que partiram, que gostávamos muito, que não há mais como voltar e um dia, a duras penas, aprendemos isso e nos despedimos deles feito criança que se despede de mais um parque em uma visitação feita em uma viagem, como foi um dia com a dança e a passarela para mim, que as fazia profissionalmente e um dia o corpo decidiu não mais obedecer aos comandos do cérebro sobre para onde girar e começou a cair, assim também aconteceu com várias pessoas e suas profissões, que tinham em suas motivações os COMOS mais distintos, como hobby, pagar contas, etc e precisaram substituí-las. 

(Conhecemos o valor de algo com base no sacrifício que enfrentamos para fazê-lo)

A troca de COMOS que a vida nos implica, que muitas vezes é norteada ou pelos nossos desejos de ter e pertencer, ou pela necessidade de sobrevivência, para mim, tem como motivação maior a busca por um sentido pessoal para a vida, como encontrar a sua missão, tendo a vida como uma oportunidade para se cumprir uma tarefa, que por conseguinte, me motiva a estabelecer objetivos concretos que a justifique, seja ela, a vida, COMO for! As finalidades nos ajudam a encontrar os sentidos particulares e “COMOFICAR” a vida, ao invés de “COISIFICAR”, como trocar os “COMOS” perdidos por COMOS novos (e não COISAS novas), exemplos: COMO melhorar isso? COMO recomeçar a fazer isso de uma forma que me seja possível? COMO fazer esse resgate? COMO é possível? 

(Intertextualizando o poeta Jean Cocteau, Enquanto você não souber impossível, é possível que se faça!) 

A minha dica é, ao invés de usar os COMOS da lamentação, que tornam tudo mais pesado e próximo ao abismo do impossível, usar os COMOS da superação,

exemplifico: 

- “COMO isso pode ter acontecido?”(COMO da lamentação);

- “eu vou descobrir COMO resolver isso!” (COMO da superação);

 Ou ainda: 

- “COMO isso é terrível ou triste…” (lamentação)

- “COMO isso pode se tornar uma luz?” (Superação)

Com base nesses achados, tenho buscado reorganizar os meus COMOS antigos que me traziam prazer e não me prejudicariam, ao contrário, ajudariam terapeuticamente em meu processo atual ao regressarem (sigo sempre nesse sentido) e para além, agregariam aos meus valores vivenciais (“Há algo de incrível e único nisso que eu possa trazer ao meu próximo?”), valores criativos (“posso gerar algo que ajude ao próximo?”) e os valores atitudinais (“o que posso fazer com essa situação dramática que sirva ao próximo também?”). Esses questionamentos são o meu norte, me possibilitando sempre a utilizar do “COMO destilar luz das trevas” e cumprir com o meu objetivo maior, ajudar ao próximo, como várias vezes já citei aqui.

(Sobreviver é tão valoroso, que vale cada COMO sacrificado) 

Encontrar o sentido da vida de forma alguma a simplifica, em nada significa resolver tudo, ao contrário, é reaprender a viver, é buscar meios de fazer isso de outras formas, inserido no contexto de perdas, dores, doenças, tragédias, assumindo um comportamento novo diante da própria existência, sendo que quanto maior as dificuldades, mais profundo, segregado, imenso e infinito será o seu sentido e isso é simplesmente incrível. 

(No entanto, a força do amor que dá sentido a tudo está no que é simples)

Mais um exemplo, veja-se diante de um mar, como navegante que por uma forte tempestade se tornou náufrago, você afunda, vai ao fundo do mar e quando pensa que é o fim, descobre que pode mais, que inclusive pode respirar sob superfícies tão profundas, coisa que você jamais havia imaginado, sequer tentado e para completar, enquanto lá no fundo, ainda que respirando mal, você descobre um infinito de possibilidades que pode desvendar e reaprender sobre como seguir dali em diante, ainda que não consiga mais voltar a superfície sem que seja apenas por breves momentos. Você percebe que pode aproveitar também para informar a todos nas margens, de todas as possibilidades, você aprende segredos sobre tudo aquilo e de agora em diante você pode permear as duas superfícies, a da terra e a do fundo do mar da vida e descobre finalmente que encontrou um tesouro escondido nas dores, nas angústias, você encontrou uma fórmula que não é nada mágica, e sim, um conglomerado de COMOS novos que podem te ajudar a SER muito mais e melhor a partir dali, esteja onde estiver, em sua fraqueza, você pode ser mais forte.

(Ama o sucinto, para só então, o sublime, imenso e profundo ser alcançado por tua alma)

Aprendi que viver é tudo o que implica respirar, cabe a mim aprender, descobrir por mérito as melhores formas de fazê-lo e para isso, sigo aceitando, respeitando e amando COMO sou. Me basta a muleta física, não preciso de muletas na alma, o meu paraíso é dentro de mim mesma, naufraga extasiada de mim que sou, em constante aprendizado sobre a profundidade onde estou, a vida!

(Existir é questionar e viver é responder)

“O sofrimento, de certo modo, deixa de ser sofrimento no instante em que encontramos nele um sentido". Viktor Emil Frankl



Sunna França 

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